Prefácio

Este Blog destina-se a falar de veleiros, navegadores, e também contar as aventuras do nosso veleiro Bella Mar. O Bella Mar é um veleiro MB 45´construído em Porto Alegre pelo sr. José Carlos Cristini, de quem eu adquiri o barco em outubro de 2010. A construção do Bella Mar, que chamava-se Paradoxo, teve início em 1998 e terminou em 2003. Na sua construção foram usados reforços extras além de placas de Divinicell no convéz e costado. A carpintaria foi feita pela Barcosul. A quilha, agora de chumbo, e o leme foram re-projetados pelo Carabelli, e o seu novo calado é de 1,65m. a mastreação, fabricada pela Farol Náutica, também teve a sua altura reduzida em 2 m, e tem armação em Cutter com cruzetas anguladas. ________________________________________________________________________ Bons Ventos a Todos, ______________________ Munir Ricardo Alle

11 de abr. de 2012

Volta do Uruguai para o Brasil

No dia 3 de março de 2012 eu, Nilson, André Serpa e o Luis Marasca viajamos para Piriápolis para buscar o Bella Mar. A intenção era pegar uma frente que passaria de forma rápida pela costa sul.
Fomos surpreendidos  pela burocracia e tramites legal. Acabamos por sair tarde e perdemos um tempo precioso. 
Na saída de Piriápolis pegamos um vento contra e tivemos que velejar 2 horas para Leste para ganhar altura e podermos passar por fora da Isla Gorriti. Isto aconteceu porque saímos atrasados e o vento que pretendíamos pegar, mais forte que viria do quadrante sul, já havia passado.
Não demorou muito a anoitecer. Por volta das 0200hs passávamos por La Paloma. O vento diminuiu durante a noite e o mar desencontrado com ondas de sul levantadas pela frente fria, e de Leste com formação oceânica, deixavam a navegada bem desconfortável. A esta altura o Marasca e o Nilson já estavam "alimentando os peixes". Ainda assim seguíamos com boa velocidade 7,5 a 8 nós co vento de popa.
Por volta das 0700hs o barco fez um giro de 360 graus. Vi que o Nilson estava no timão e perguntei o que ele estava fazendo. Respondeu me que o Piloto não estava respondendo e que a roda de leme também não respondia.
Subi rapidamente ao convés e me dei conta que era verdade. Senti um frio no estomago e passou pela minha mente um dos meus maiores pesadelos: Perda de leme!
Abri o paiol de popa e pulei pra dentro para averiguar a situação. Logo constatei que não era a perda do leme (graças a Deus).
Não era nada que nos colocasse em risco, mas era um pouco complicado. O parafuso que segurava o braço hidráulico do Piloto Automático quebrara, e quando o leme girou com toda a força e bateu no final do curso arrebentou o cabo de aço que vai da roda de leme ao quadrante do leme. Descobri então que o parafuso era de latão, um material muito fraco para a força que aquela peça exerce. 
Enquanto o André abaixava as velas o Nilson e o André me ajudavam com ferramentas e parafusos. Logo conseguimos colocar um outro parafuso, mais fino, em outro furo no quadrante. Não era o Ideal devido a diferença de torque, mas nos levaria lentamente a nosso destino. Decidi não mexer nos cabos da roda de leme, pois o barco mexia muito com as ondas.
Precisamos tomar uma decisão. Estávamos a 30 MN da divisa do Chuí e umas 20 MN longe da costa.
Faltavam 180 MN para Rio Grande e 50 MN para La Paloma. O Porto Mais próximo. Havia uma tendência do vento virar para Leste e Nordeste. Assim resolvemos que a decisão mais correta seria de voltarmos para La Paloma.
Saída do Porto de La Paloma
Foram 10 hs de navegada no sentido oposto ao nosso destino inicial, o que nos dava uma sensação de frustração. Mas quem vai ao mar está sujeito a estas coisas. As dez horas passaram rápido e as 1700 hs entravamos no Porto de La Paloma. Muito bonito e organizado. Aliás La Paloma é uma cidadezinha muito pitoresca. Recomendo a visita!
Depois de atracarmos o barco, desmontarmos o cabo da Roda de leme e fazermos todos os tramites burocráticos, fechamos o barco e pegamos um taxi para a rodoviária, pois não haveria possibilidades de continuarmos a viagem. O vento mudaria para NE, além do mais eu tinha compromissos em Porto Alegre.
Na Rodoviária, só teria onibus para o Chuí na manhã seguinte, então pegamos o mesmo taxi e pedimos que nos levasse ao Chuí. 150 km. Lá jantamos, e pegamos um outro onibus para Porto Alegre. Uma viagem terrível.
 
Passaram-se 25 dias muito rapidamente, Só aí então no dia 27 de março é que foi possivel buscar o Bella Mar que ficou quietinho no Porto de La Paloma. Com uma tripulação diferente, eu o Silvio Teles e o Alfredo Pinto pegamos um onibus com destino a Punta del Este e decemos em Rocha, onde o mesmo taxi que nos levou para o Chuí, nos esperava. Foi uma noite sem dormir para mim, pois estava preocupado em decer na imigração Uruguaia e fazer a entrada e a saída, já que em La Paloma não há posto de imigração. Foi difícil fazer a oficial Uruguaia entender o o que nós íamos fazer, e depois foi difícil ela descobrir como faria o processo. Tudo isso as 4 hs da manhã. 
Fazendo os reparos



Munir e Silvio
Logo as 0630 hs decemos em Rocha onde fazia 6 graus e chovia um pouco. O taxi nos levou ao Porto e começamos a fazer os reparos no barco, enquanto o Silvio foi comprar óleo Diesel para abastecermos o barco para a viagem. Assim que arrumamos os cabos do leme, fui pagar o porto e pegar permissão da Prefeitura Naval para sair. Foi um pouco difícil, pois não queriam nos autorizar a sair devido do vento Pampero de força 8 e a ressaca no mar. Após longa conversa onde avaliaram o barco e a tripulação decidiram nos autorizar.
Depois de tudo arrumado, conseguimos sair do porto as 1040 hs. O mar estava grosso e o vento forte de SW. A pricipio o vento não era o problema, e sim as ondas de Sul que deixavam o mar parecendo uma máquina de lavar roupa. As ondas de Sul de 3,5 m a 4,5 m não permitiam que navegássemos próximo a praia, que era a nossa intenção inicial, ja que o vento era levemente terral. Mesmo assim nos mantivemos relativamente perto da costa para evitar o mar cruzado.
Alfredo.........
Logo que passamos a divisa do Chuí, conversamos com dois barcos de pesca pelo rádio e eles disseram que só eles estavam fora, e nos sugeriram que nos afastássemos pelo menos 25 milhas da costa, pois as ondas estavam quebrando muito fortemente no Banco do Albardão e nos outros bancos que o seguem. Assim abrimos quase 30 milhas da costa e encaramos um mar cruzado co ondas de 4,5 m de sul e ondas de 3m de SW. Foi uma noite muito cansativa! Algumas ondas quebravam no costado, outras quebravam pela popa por cima de nós. Algumas planadas faziam o barco  passar de 15 nós, e numa em especial o barco atingiu 19,6 nós. O Bella Mar se comportou muito melhor do que nós. O Alfredo começou a passar muito mal apenas 1/2 hora depois que saímos e seguiu assim até a barra de Rio Grande. E eu e o Silvio chegamos muito cansados.

Durante a noite me preocupei com a navegação pois temia que passássemos de Rio Grande enquanto estávamos a 30 MN da terra, Isto nos forçaria a fazer um contravento em direção a barra. Procurei diminuir a velocidade do barco o maximo que eu pude, e assim que começou a clarear e podíamos ver as ondas iniciamos um través orçado para Rio Grande. Foram 5 hs levando o barco na mão igual a um monotipo negociando cada onda, mas foi divertido e bem melhor doque navegar no escuro com ondas vindo de todos os lados.
Fizemos 224 MN em 24 hs. Pois de barra a barra, foram exatamente 24 hs. Entramos na barra de Rio Grande as 1040hs. Durante a viagem as ondas e os ventos levaram a capa do bote e a capa da churrasqueira. Deixamos o barco no Hospitaleiro Rio Grande Yacht Club.